
O Papa acena para o coral formado por 60 jovens de Maringá (Foto: Arquivo particular/ Coral Arquidiocesano de Maringá)
O dia amanhecera lindo naquela capital do velho continente. Pela manhã, senti um misto de ansiedade e euforia. Era dia de catequese com o Papa. O evento mais importante e aguardado pelos fiéis começaria dentro de algumas horas. Como num pulo, levantei-me da cama e fui me aprontar. Minutos mais tarde, aguardamos no saguão do hotel o momento da saída.
- Atenção pessoal, sairemos em cinco minutos – informara um senhor de estatura baixa e vestimenta impecável.
Tinha por nome Orivaldo Robles, respeitado pároco de Maringá e assessor do Coral, amado e admirado por todos nós que o costumávamos chamar carinhosamente de “padrinho”. Uma figura única, com um coração maravilhoso.
A caminho da cerimônia, fui contemplando a linda paisagem de Roma. Era incrível como podia ser clássica e moderna ao mesmo tempo, com tantos prédios arrojados misturados a construções históricas. Uma cidade apaixonante.Fechei os olhos por um instante e então respirei fundo. Havia chegado a hora, o tão esperado sonho estava perto de se realizar. Mas o que eu não imaginava é que o dia ainda guardava muitas surpresas.
Ao chegarmos à Praça do Vaticano, local do evento, avistei de longe, fiéis que se aproximavam a fim de conseguir um lugar privilegiado para acompanhar a catequese papal.
- Nem posso acreditar! - exclamei, emocionada.
- Que lugar lindo! Onde será que ficaremos? - perguntou um jovem alto e magricela, que admirava, extasiado, a paisagem.
- Esperem um momento, irei perguntar àquele guarda - comentou Elton, o tecladista do grupo.
Os minutos de espera pareceram uma eternidade para nós. Ninguém conseguia disfarçar o nervosismo. Até que Elton voltou com um semblante que denunciava frustração. O olhar era de tristeza.
- Não deu gente. Infelizmente não sei lhes informar o real motivo, mas a equipe do evento não nos autorizou a ficar na área VIP. Teremos de ficar mais atrás, próximos da multidão. Vamos!
Aquela notícia soou como uma bomba para o grupo. O clima era de total decepção. Não nos sobrava alternativas, teríamos de ficar no local mais afastado das outras caravanas. Mas apesar disso, algo me dizia que seria por pouco tempo. A emoção foi inevitável. Foi um festival de choros e abraços demorados. Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo, demorou um tempo até que caísse a ficha da turma.

Grupo de cantores durante apresentação na Praça do Vaticano (Foto: Arquivo pessoal/ Coral Arquidiocesano de Maringá)
Decidimos então interagir com um grupo holandês que se encontrava ao lado e parecia muito animado com a nossa presença. Eram, ao todo, 1.600 cantores de diferentes idades, contra apenas 60 do nosso grupo. Apesar do estrondoso número de pessoas, não nos intimidamos e fizemos a festa para o grande público, que entre uma música e outra, aplaudia vibrante. Assim ficamos, durante um bom tempo.
A certa altura, percebemos um homem caminhando em nossa direção e trazendo nas mãos o que parecia ser um microfone. Ao se aproximar, apresentava um crachá que o identificava como funcionário da “Rádio Vaticano”. Ele nos explicou que estava trabalhando na cobertura do evento e ficou totalmente deslumbrado com a performance do pequeno coro junto ao grupo holandês. Afirmou que nunca havia visto nada parecido. Decidiu nos gravar por alguns minutos e então a surpresa: chamou-nos para ir até o espaço VIP da praça, bem perto do papa Bento 16.
A emoção foi inevitável. Foi um festival de choros e abraços demorados. Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo, demorou um tempo até que caísse a ficha da turma. Naquele momento, nada mais importava. Senti uma felicidade indescritível.
- Ai meu Deus, conseguimos, conseguimos! - comentei, vibrante.
A emoção foi inevitável. Foi um festival de choros e abraços demorados. Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo, demorou um tempo até que caísse a ficha da turma
Tive a certeza de que tudo foi intercessão divina. Percebi o quão importante era o trabalho que eu realizava, o dom de cantar, louvar a Deus. Viemos de tão longe representar nosso país e o fato de conseguirmos realizar o sonho, apesar de todas as barreiras, foi uma grande vitória para nós. Ver a multidão de fiéis gritando, saudando-nos, alegres por aquela conquista, após tantas frustrações, foi o melhor presente que recebemos naquele dia. Assim que sua Santidade, o Papa adentrou a praça, agitamos as bandeiras, eufóricos. Bento 16 logo notou nossa presença, olhando de relance para o grupo. Gentilmente, acenou para nós e logo depois seguiu em direção ao palco. Após todas as formalidades, os grupos presentes foram sendo anunciados. Para concretizar a conquista, assim que ouvimos o nome do coro, colocamo-nos a postos e cantamos, emocionados, “Aquarela do Brasil”, o hino que tanto cativara os italianos e que nos motivou durante a jornada. Ao final do dia, a sensação era de dever cumprido. Foram momentos incríveis, que jamais esquecerei.

Confraternização entre os corais após o término da cerimônia (Foto: Arquivo pessoal/ Coral Arquidiocesano de Maringá)