
O primeiro esboço de uma boa reportagem surge ainda na pauta (Foto: Luiza Recco)
No processo de produção do Jornal Matéria Prima deste ano há um claro desinteresse na elaboração das pautas. A impressão que fica é que os estudantes não compreendem a real finalidade dessa importante e necessária ferramenta do jornalismo. Ao contrário do que se espera, é tratada como mera obrigação técnica por parte da maioria dos integrantes do jornal. Resultado, quatro dos dez alunos de jornalismo deixaram de produzir pelo menos duas pautas cada um neste semestre, o que culminou em edições “pobres” de conteúdo e informação.
No livro “Jornalismo Diário”, a autora, Ana Estela de Sousa Pinto, esclarece que a pauta atua como uma proposta de reportagem, um projeto de cobertura. É, segundo ela, o exercício mais importante – e talvez o mais difícil – que todo aspirante a jornalista deve se propor a fazer. Ana Estela, que coordena o programa de treinamento de novos jornalistas no jornal Folha de S. Paulo, diz que antes de mais nada, a ferramenta serve para orientar o repórter – quando o editor pede que ele apure uma história – e os profissionais da edição – que recebem da produção a lista de histórias que estão sendo feitas no dia. Outro fator essencial, apontado pela jornalista, é que a pauta apresente uma novidade, seja interessante, importante, rica em conteúdo.
No caso específico do Jornal Matéria Prima, se o estudante não souber explorar bem os recursos que tem para a produção de uma boa pauta, a tendência é que fique desanimado e acomodado. Consequentemente, a qualidade e credibilidade do material deixa a desejar – assim como a sua própria formação profissional.
Aquele que não busca se aperfeiçoar constantemente pode não vir a ser um bom profissional no futuro
Segundo o Manual da Redação da Folha de S. Paulo, um bom planejamento individual e de equipe, além de uma sólida e constante discussão dos fatos – assim como de sua repercussão na realidade – determinam o sucesso de uma boa pauta.
É preciso que o hoje estudante e futuro profissional do jornalismo tenha em mente, de forma clara e objetiva, o fato que deseja relatar, quem serão os personagens da história e, por fim, quem auxiliará na coleta e apuração dos dados para a reportagem. “A pauta não surge apenas de uma iniciativa técnica nem é unilateral. Compete a cada jornalista buscar e investigar os fatos para oferecer à editoria sugestões de boas reportagens” – diz Ana Estela de Sousa Pinto.
Dessa forma, antes de entrarem para o mercado de trabalho é necessário e importante que os estudantes comecem a tomar consciência e a se familiarizar com essa ferramenta. Não basta apenas escrever. É preciso treinar o hábito da leitura diária, o raciocínio rápido, a busca por informações, até que a ideia esteja totalmente formatada e pronta para ser desenvolvida.
Aquele que não busca se aperfeiçoar constantemente pode não vir a ser um bom profissional no futuro. Agora, resta esperar para ver se os aspirantes a jornalistas desejam a mudança.